segunda-feira, 2 de abril de 2012

Imensidão do Vazio?

-       A que te cheira Imensidão do Vazio? Que raio de título! Só ao dizê-lo fico assustado. Parece um fantasma que me come vivo.
-        Não sei. Toca-me, mas ao mesmo tempo está distante de mim. Corro à procura dele, mas as palavras fogem e deixam para trás isso mesmo, um cheiro. Um perfume novo, indecifrável e por intitular.
-        Calma, mais devagar. Então é um cheiro, deixado por um título, que está por intitular?
-        Sim, isso mesmo. Parece passar uma mensagem nova, como uma brisa que atravessa a nossa alma pela primeira vez, deixando um rasto que queremos chamar, mas não sabemos o nome.
-        Mas ouve bem, se é novo então alguém há-de ter que lhe dar um nome! Até as próprias pessoas precisam de outras pessoas para serem mais do que uma pessoa.
-        Estou a ver que andas a prestar atenção aos livros.
-        Olha lá, achas mesmo? Simplesmente soube dar um nome ao meu filho.
-        Pois, mas a verdade é que eu não consigo arranjar palavras para as palavras. Elas arrepiam-me e vibram todos os meus sentidos. Mudam-me de direção e completam a minha parte vazia, mas ainda assim fica sempre algo por preencher e uma imensidão de palavras que não cabem nela. Só que há coisas que mexem comigo sem falar, sem mudar nada em mim. Como se me fizessem avançar e recuar, ficando no mesmo lugar.
-       Um suspiro?
-       Digamos um fôlego, um ar que retemos e libertamos!
-       Não vai dar tudo ao mesmo?
-       Vai.
-       Então de onde vem a preferência?
-      Não sei, também não compreendo!
-      Andas a ficar demasiado estranho. Não consigo perceber nada dessas tuas ideias. Parece-me que estamos discutir como são, coisas que nem são.
-      Eu sou.
-      E a poesia é?
-       Não. A poesia só é versos. Podia utilizar a palavra meros, apenas ou exclusivamente, mas porque o haveria de fazer se são só versos? No entanto, repito, eu sou e por isso, ela é enquanto que eu lhe der vida. Tu também o podes fazer se lhe deres a oportunidade de ser aquilo que ela faz.
-       Acho que não estás a perceber, nem parece teu. Eu perguntei se a poesia era no sentido de viver por ela própria como nós. Segundo o que tu dizes os computadores também têm vida se alguém os amar.
-       Belo exemplo. A verdade é que os computadores são, mas são sempre a mesma coisa e como tu fizeste a pergunta no sentido da existência de vida, digo-te, eles são desprovidos dela. Viver é não ser, porque ser implica ficares parado num determinado instante em que tens determinadas características e viver é uma constante, inconstante, sempre em movimento. Se tu vives, nunca és nada, mas sim estás a ser!
-       Então só os seres vivos é que são, porque um poema é sempre o mesmo.
-      Aí é que te enganas. Um poema nunca é o mesmo, porque ele só existe se for lido e ninguém o lê da mesma forma. Em si e para além de tinta, a poesia só é versos.
-      Cá eu, acho que para haver vida, tem de haver opinião e a poesia não fala sozinha, precisa de alguém que a faça viver, como tu disseste.
-       Então nada nem ninguém tem vida!
-       Então porquê? Nós humanos temos opinião.
-       Pois temos, aliás, eu até já o disse por outras palavras, mas toda ela surge de outras opiniões e ideias, como uma corda à qual se acrescentam outras cordas inspiradas na que já lá estava.
-       Mas teve que haver um começo, uma primeira vivência que pudesse inspirar todas as outras.
-      Não.
-      Não?
-      Não, porque as opiniões são obras da sociedade. Ora, como esta funciona ciclicamente, não tem princípio, meio, nem fim.
-      És capaz de ter razão.
-      Talvez, mas tudo o que se tem, perde-se. É a vida!
-      Olha, acho que já sei porque é que a Imensidão do vazio me assustou.
-       Então diz lá!
-       Para viver não podemos ser.




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