sábado, 26 de maio de 2012

segunda-feira, 14 de maio de 2012

CONTO IMPOPULAR: A história do nada!

Era uma vez uma coisa que por mais coisa que fosse não passava, nada mais, nada menos, do que do sr. Nada. Aliás, ser considerado um ser foi uma batalha que teve de combater desde a sua existência até ao Sr. Dr. Tudo ter pena dele. Lá lhe assinaram os papéis com uma caneta cor-de-rosa choque encontrada no chão sem lhe dizer nada que valesse alguma coisa e o já sr. Nada voltou para onde nadava. A sua aldeia chamava-se Nadice e não tinha nada que o pudesse fazer sentir mais do que uma coisa. Não se viam nuvens. Não se viam pássaros. Não se viam casas. Não se viam carros. Não se viam pessoas. Não se via nada. Os nadas não são cegos. Nada disso. Prova disso, é que nem preto avistam. Simplesmente, não havia nada para ver.
Certo dia, o sr. Nada ficou cansado de viver com a srª Ninguém, condenado a nadar pelo vazio da Nadice, e decidiu sair à procura do tudo. Esvoaçou pela floresta com toda a força que guardava no seu nado e quando menos esperava encontrou o sr. Tudo. Este, não o conseguiu ver. Talvez nem tenha tentado. Mas como o sr. Nada não tinha nada, não lhe faltou espaço para absorver o sr. Tudo.
Cumprido o seu sonho, o sr. Nada, que já tinha Tudo, nada mais tinha para fazer a não ser aproveitá-lo. Apanhou todas as flores e frutos da floresta com os seus braços. Explorou todos os lugares do mundo à custa das suas pernas. Conquistou todas as meninas Tudices com o seu cheiro. Venceu todos os desportos com a sua bravura.
Até que um dia arrebentou e expeliu todo o Nada que possuía. Era oficial. O sr. Nada já nada tinha de Nada. O sr. Nada já era o sr. Tudo! Porém, sentiu falta de algo. Não sabia bem dizer o quê, visto que já tinha Tudo, mas acabou por decidir procurar qualquer coisa pela Nadice, o único lugar que enquanto Sr. Tudo ainda não tinha visitado, e sem suspeitar de nada foi absorvido pelo sr. Nada.
Só que desta vez, o sr. Nada não passou a ter tudo, limitando-se a converter o sr. Tudo em Nada. Afinal, estavam na Nadice e neste lugar, tudo é nada.
O sr. Nada nunca mais quis procurar o sr. Tudo, porque dentro do seu nada tinha outro nada que o fazia feliz!

sábado, 12 de maio de 2012

Contando um conto

Encontrei esta pequena história numa pasta que mantenho no ambiente de trabalho chamada O mundo nos meus olhos. Escrevi-a no dia 15/04/2011 (tinha 14 anos) numa praia deserta no Algarve, deitada nas rochas a aproveitar a amostra de calor a que tive direito. Já a li numa aula de Língua Portuguesa, mas não a podia deixar guardada a apanhar o pó da memória ram. Tenho um carinho especial por ela pela mensagem que passa com simplicidade, por me ter impulsionado a tomar a escrita como prioridade e por ser um espelho da minha paixão por Sophia de Mello Breyner.


Ontem, mal acordei, vesti a minha melhor roupa, tomei o pequeno-almoço feito pela minha criada e peguei no artigo que escrevi para ser capa da revista que dirijo. Entrei no meu luxuoso carro e informei o meu motorista que daquela vez iriamos passar pela quinta avenida antes de chegar ao escritório.
            Quando chegamos, coloquei um sorriso forçado e comecei à procura de pessoas especiais. Encontrei góticas com lábios pintados de preto, mulheres a correr para não chegarem atrasadas ao spa, raparigas de seis anos com sapatos altos e inúmeras pessoas escandalosas que nada me impressionaram.
Até que reparei numa pequena rapariga que usava uma saia cor-de-rosa florida, uma camisa branca com folhos e uns sapatos de ballet. Possuía uma aura dócil e amável e conseguia cativar o olhar da multidão enquanto saltava pela rua com um cesto repleto de maçãs que acompanhava os seus movimentos. Não suspeitei a idade que tinha, de que país era nem tão pouco se era rica ou pobre. E esse vazio intrigou-me profundamente.
            Perguntei-lhe o que fazia e surrateiramente limitou-se a oferecer uma das suas maçãs a um mendigo. Ainda assim, continuei a persegui-la com cada vez mais entusiasmo em desvendar o mistério que a acompanhava. Desta vez, perguntei-lhe de onde era e ela tocou no meu peito. Baralhada, perguntei-lhe se ela era feliz e sem margem para pensar duas vezes ela abanou a cabeça de forma a dizer que não.
Então, por impulso, e tal como qualquer outra pessoa faria perguntei-lhe porquê e com uma voz suave e aveludada ela respondeu “Eu sou o teu passado, mas fui abandonada.”. Depois disto, ela evaporou-se, mas voltei a encontrá-la no meu coração.

Teresa Poças

segunda-feira, 7 de maio de 2012

“Rostos na multidão”: Passam sempre despercebidos?

Positiva ou negativamente, a estreia de Valleria Luiselli como romancista é surpreendente! A obra apresenta uma estética literária absolutamente inovadora, na qual a personagem principal relata os acontecimentos da sua vida familiar, profissional e surreal no romance que está a tentar escrever. A despreocupação com o encadeamento e a amálgama de pensamentos torna a sua leitura numa verdadeira aventura em que por vezes nos sentimos perdidos. Tanto nos encontramos na cabeça da protagonista, uma jovem editora nova iorquina, que nos revela as suas perspetivas de ver a vida e o relacionamento com os outros, como de repente nos deparamos com a sua bebé a fazer-lhe perguntas estranhas sobre os elefantes. Acredito não ter sido a única a lê-las variadíssimas vezes para tentar encontrar uma ligação com o resto da história, visto que a interrompiam aparecendo isoladas sem ponta de descrição, mas acaba sempre por seguir em frente com a curiosidade de saber o que é que a peculiaridade da protagonista me iria proporcionar. Mal tinha perceção da flexibilidade imaginativa que estava a adquirir. Será que existe alguma relação? Não sei. Penso até que a própria autora partilha a mesma duvida, mas não será mesmo assim a vida? Um mar de rostos na multidão sem importância à nossa disposição para serem selecionados e tratados como se valessem mais do que todos os outros?
Porém, quando eu já estava surpreendida com os pinos imaginativos que certas coisas banais me tornaram capaz de fazer, comecei a ser perseguida por outra personagem. Owen, o poeta que a protagonista andava a estudar, deixa de ser apenas um fantasma que a acompanha no metro e acaba por lhe roubar a personalidade ao longo da obra gradualmente, sendo que o narrador passa a consistir em duas personagens distintas que se fundem sem termos acesso à distinção de cada uma delas a não ser pelo contexto. Confesso ter-me chateado com o livro várias vezes, mas a absoluta incerteza acerca do final obrigava-me a fazer as pazes. Só quando o terminei de ler é que percebi a sua mensagem, mas ainda assim todas as outras páginas valeram as minhas pestanas queimadas. É sem dúvida uma prova de que ainda existem rostos na multidão por descobrir, que não podemos deixar passar como se nos levassem ao mesmo destino de todos os outros!

domingo, 6 de maio de 2012

A força dos sonhos de Sophia

Guarda na gaveta da minha mesinha de cabeceira um livro de Sophia intitulado "HISTÓRIAS DA TERRA E DO MAR" que me inspira sempre que me sinto vazia. A doçura das suas palavras conduzem-me à filosofia existencialista sem me aperceber do caminho. Leio e releio cada parágrafo num fôlego que alimenta a sede de vida. Sophia está viva na alma de quem lê as suas palavras.
Deixo-vos com as palavras que mais estimo em toda a minha história literária até aos dias de hoje. Podem lê-las as vezes que quiserem. Não cobro bilhete, nem elas ficarão gastas!


"Jardins onde reconhecemos que a vida é um sonho do qual jamais acordamos, um sonho onde irrompem aparições prodigiosas como o lírio, a águia e o inesquecível rosto amado com paixão, mas onde tudo se transforma em esquecimento, distância, impossibilidade e detrito. Jardins onde reconhecemos que a nossa condição é não saber. É não poder jamais encontrar a unidade. E encontrar a unidade seria acordar."
Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Histórias da terra e do mar"

sábado, 5 de maio de 2012

sem bóia

Nada diz tudo
E o tudo nada é
Se nada filtra.
Tudo o que é meu
Nada pelo nada
Do tudo que tenta
Ser mais do que algo.

Nada disse
Nada quero
Vivo nadando pelo nada do céu
À espera de cair no mar
E aterrar na terra sem humidade.