domingo, 30 de março de 2014

cristal

Reluziam na noite as sombras que o dia deixou
Espelhadas nas lágrimas límpidas e vazias
À espera que a magia lhes desse cor.
Oh sal, muda de sabor!

sábado, 22 de março de 2014

madrugada nua
candeeiros escuros
a iluminar
discretamente

guitarra na mão
como se a cantar
eu fosse o suspiro
da noite
que vive em mim
e teima
em não adormecer

não há nada a temer
quando são 2 da madrugada
e escreves um poema 
sobre uma canção
que nunca foi cantada

nem há pesadelo pior
que a arte de aprender
a ser feliz sozinho
numa cama de três:

eu, tu
e aquela coisa
que falta

domingo, 16 de março de 2014

Entardecer

O guarda-sol, parado, já não guarda o sol que retarda
E eu, cansada de nada, fujo dos raios a cada quarto d'hora
Atrevendo-me a ponderar empurrá-lo da próxima vez
Em que o sol balance no azul e saia fora do pano!
Peço desculpa, amigos, pelo meu ato egoísta
Mas, acabando com a mística,
Lembro-vos de que o sol não balança, 
Nem a tarde cai,
Nem seria possível eu fugir
De algo que não avança!
É o guarda-sol, aquele que se faz de parado,
Que foge a cada quarto d'hora,
E eu, sem saber qual o sentido errado,
Já não mais tenho alma
Para o empurrar contra a gravidade!

Dei por mim a entardecer.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Imagina.

Umas gotas de dior,
O som da água a sair do chuveiro,
E eu, nua, parada no tempo
Afastava com a mão o nevoeiro
Daquele pequeno espaço a ferver
Contemplando a beleza do espelho
Como se nada mais precisasse

A água não parava de cair;
Magnífica banda sonora me acompanhava!

Nada parecia útil,
Se não o prazer
De ser o que desejo

Imagina.

sábado, 1 de março de 2014

esta

A televisão não se cala

Diz coisas que eu ouço
Mas não quero escrever

É escusado registar
O tipo de coisas que dão notícia!
Esta dor que sinto
É muito mais grave:
Não tem causas
Não tem soluções
E, mais grave ainda,
Ninguém lhe paga publicidade