sábado, 12 de maio de 2012

Contando um conto

Encontrei esta pequena história numa pasta que mantenho no ambiente de trabalho chamada O mundo nos meus olhos. Escrevi-a no dia 15/04/2011 (tinha 14 anos) numa praia deserta no Algarve, deitada nas rochas a aproveitar a amostra de calor a que tive direito. Já a li numa aula de Língua Portuguesa, mas não a podia deixar guardada a apanhar o pó da memória ram. Tenho um carinho especial por ela pela mensagem que passa com simplicidade, por me ter impulsionado a tomar a escrita como prioridade e por ser um espelho da minha paixão por Sophia de Mello Breyner.


Ontem, mal acordei, vesti a minha melhor roupa, tomei o pequeno-almoço feito pela minha criada e peguei no artigo que escrevi para ser capa da revista que dirijo. Entrei no meu luxuoso carro e informei o meu motorista que daquela vez iriamos passar pela quinta avenida antes de chegar ao escritório.
            Quando chegamos, coloquei um sorriso forçado e comecei à procura de pessoas especiais. Encontrei góticas com lábios pintados de preto, mulheres a correr para não chegarem atrasadas ao spa, raparigas de seis anos com sapatos altos e inúmeras pessoas escandalosas que nada me impressionaram.
Até que reparei numa pequena rapariga que usava uma saia cor-de-rosa florida, uma camisa branca com folhos e uns sapatos de ballet. Possuía uma aura dócil e amável e conseguia cativar o olhar da multidão enquanto saltava pela rua com um cesto repleto de maçãs que acompanhava os seus movimentos. Não suspeitei a idade que tinha, de que país era nem tão pouco se era rica ou pobre. E esse vazio intrigou-me profundamente.
            Perguntei-lhe o que fazia e surrateiramente limitou-se a oferecer uma das suas maçãs a um mendigo. Ainda assim, continuei a persegui-la com cada vez mais entusiasmo em desvendar o mistério que a acompanhava. Desta vez, perguntei-lhe de onde era e ela tocou no meu peito. Baralhada, perguntei-lhe se ela era feliz e sem margem para pensar duas vezes ela abanou a cabeça de forma a dizer que não.
Então, por impulso, e tal como qualquer outra pessoa faria perguntei-lhe porquê e com uma voz suave e aveludada ela respondeu “Eu sou o teu passado, mas fui abandonada.”. Depois disto, ela evaporou-se, mas voltei a encontrá-la no meu coração.

Teresa Poças

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