Ontem, mal acordei, vesti a minha melhor roupa, tomei o pequeno-almoço feito pela minha criada e peguei no artigo que escrevi para ser capa da revista que dirijo. Entrei no meu luxuoso carro e informei o meu motorista que daquela vez iriamos passar pela quinta avenida antes de chegar ao escritório.
Quando chegamos, coloquei um sorriso forçado e comecei à procura de pessoas especiais. Encontrei góticas com lábios pintados de preto, mulheres a correr para não chegarem atrasadas ao spa, raparigas de seis anos com sapatos altos e inúmeras pessoas escandalosas que nada me impressionaram.
Até que reparei numa pequena rapariga que usava uma saia cor-de-rosa florida, uma camisa branca com folhos e uns sapatos de ballet. Possuía uma aura dócil e amável e conseguia cativar o olhar da multidão enquanto saltava pela rua com um cesto repleto de maçãs que acompanhava os seus movimentos. Não suspeitei a idade que tinha, de que país era nem tão pouco se era rica ou pobre. E esse vazio intrigou-me profundamente.
Perguntei-lhe o que fazia e surrateiramente limitou-se a oferecer uma das suas maçãs a um mendigo. Ainda assim, continuei a persegui-la com cada vez mais entusiasmo em desvendar o mistério que a acompanhava. Desta vez, perguntei-lhe de onde era e ela tocou no meu peito. Baralhada, perguntei-lhe se ela era feliz e sem margem para pensar duas vezes ela abanou a cabeça de forma a dizer que não.
Então, por impulso, e tal como qualquer outra pessoa faria perguntei-lhe porquê e com uma voz suave e aveludada ela respondeu “Eu sou o teu passado, mas fui abandonada.”. Depois disto, ela evaporou-se, mas voltei a encontrá-la no meu coração.
Teresa Poças
Esta história tem continuação?
ResponderEliminarGostaria de vê-la continuada...