Porém, quando eu já estava surpreendida com os pinos imaginativos que certas coisas banais me tornaram capaz de fazer, comecei a ser perseguida por outra personagem. Owen, o poeta que a protagonista andava a estudar, deixa de ser apenas um fantasma que a acompanha no metro e acaba por lhe roubar a personalidade ao longo da obra gradualmente, sendo que o narrador passa a consistir em duas personagens distintas que se fundem sem termos acesso à distinção de cada uma delas a não ser pelo contexto. Confesso ter-me chateado com o livro várias vezes, mas a absoluta incerteza acerca do final obrigava-me a fazer as pazes. Só quando o terminei de ler é que percebi a sua mensagem, mas ainda assim todas as outras páginas valeram as minhas pestanas queimadas. É sem dúvida uma prova de que ainda existem rostos na multidão por descobrir, que não podemos deixar passar como se nos levassem ao mesmo destino de todos os outros!
segunda-feira, 7 de maio de 2012
“Rostos na multidão”: Passam sempre despercebidos?
Positiva ou negativamente, a estreia de Valleria Luiselli como romancista é surpreendente! A obra apresenta uma estética literária absolutamente inovadora, na qual a personagem principal relata os acontecimentos da sua vida familiar, profissional e surreal no romance que está a tentar escrever. A despreocupação com o encadeamento e a amálgama de pensamentos torna a sua leitura numa verdadeira aventura em que por vezes nos sentimos perdidos. Tanto nos encontramos na cabeça da protagonista, uma jovem editora nova iorquina, que nos revela as suas perspetivas de ver a vida e o relacionamento com os outros, como de repente nos deparamos com a sua bebé a fazer-lhe perguntas estranhas sobre os elefantes. Acredito não ter sido a única a lê-las variadíssimas vezes para tentar encontrar uma ligação com o resto da história, visto que a interrompiam aparecendo isoladas sem ponta de descrição, mas acaba sempre por seguir em frente com a curiosidade de saber o que é que a peculiaridade da protagonista me iria proporcionar. Mal tinha perceção da flexibilidade imaginativa que estava a adquirir. Será que existe alguma relação? Não sei. Penso até que a própria autora partilha a mesma duvida, mas não será mesmo assim a vida? Um mar de rostos na multidão sem importância à nossa disposição para serem selecionados e tratados como se valessem mais do que todos os outros?
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