terça-feira, 6 de setembro de 2016

Liberdade

Nuvens alaranjadas sobre o topo da terra,
Escondem dos que respiram a fauna quotidiana,
O céu que nunca deixa de ser azul;
Brancas acinzentadas à vista deles,
Choram a altitude, a distância, a estagnação
E o acumular de dias de sol extasiantes,
Que Copérnico ordenou aos deuses sem nome!
Acima delas, tudo é velozmente perto,
Um vazio enorme ergue-se como estrada
Desprovida de rotundas e obstáculos,
De sinais, normas, horários e vigilantes:

Só para quem tem asas!

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Transição

Há dias que acabam em iniciação,
Fecham-se todas as portas,
Solta-se um mundo sem divisões.

Despeço-me de ti ao pôr-do-sol,
Esqueço-te pela madrugada.
Não espero que Ela te ame amanhã


quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Passagem de nível

Separo a alma por níveis de respostas
Às questões que me nasceram intrínsecas
Num buraco que não pretendo tapar.
Os dias são demasiado longos
O tempo escapa-me
A vida fica curta
O buraco continua vazio.

Agarra a paz dos mortos vivos
A paixão frenética dos que sentem
A solicitude dos que já pensaram
O marte dos que nunca saíram do sítio
A canção dos que encantam
A beleza dos olhos cansados,
Agarra-Te e coloca-Te
Onde descobriste que existe o que desejas.
Dança ao som das questões que te fazem estremecer
E das palavras que nunca foram seres,
Mas que já foram usadas tantas vezes.
Deixa que Te atirem pedras,
Que se provoquem incêndios no inverno,
Que se queimem os resquícios do que nunca foi
Mas foge,
Foge,
Foge,
Sempre que aquilo que te elevam,
Faça força na terra,
E aumente o buraco
Em vez de se deixar cair como um íman
Que respira dentro das tuas paredes.


quarta-feira, 20 de julho de 2016

Um Ponto

Um tiro no mar não destrói nem mata,
Apenas agita as águas, acorda os peixes,
E assusta as tripulações em redor.
Respira fundo, foca o olhar,
Concentra as tuas forças


Pausa.

Pressiona o gatilho!

Amanhã tudo será igual,
Não te darás conta dos peixes que morreram
E ninguém te levará a tribunal
Provas? Testemunhas?
Ninguém irá ver,
E as águas voltarão ao sítio.


sexta-feira, 15 de julho de 2016

Ressurreição

Canto a alegria, como vingança da tristeza,
Na maré do anoitecer, livre de rotina!

Nada está marcado, nada há para fazer,
Naquelas horas em que ajeitas o quarto,
Vestes o pijama e te preparas para adormecer.
Dura apenas um resquício das trocas de olhares,
Dos bons dias e boas tardes, das tragédias,
Das histórias, das partilhas e dos pequenos gestos.

O corpo e a mente respiram, refletem sem pensar,
Os músculos retraem-se,
E a alma armazena energia cinética,
Para o dia que está para começar.

Nada será igual depois da ressurreição,
E o incerto acontecerá
Se o raciocínio não tiver conclusão.
Tudo é errado depois do fim,
Mas tão poderoso se o conseguir ultrapassar!



sábado, 2 de julho de 2016

Matéria(l)

Os dias de sol abrasam as almas frias
Puras, brancas, vazias,
Demasiado apropriadas à meteorologia

A sociedade é um isqueiro
Que acende o gelo
E faz do nada, energia.
Queima, Queima, Queima,
E desfaz o que seria
Se não fosse imune a si próprio

A natureza é um quadro,
Que não acende, nem pega,
Um pedaço de nada,
A origem de tudo
E só voltando a ela
Se começa de novo
A alma que será

É difícil estar cá,
Lá é orientador,
Menos disperso,
Mais concreto
Mas cá é onde está o caminho!

Não há dia sem sol,
Não há sol sem galáxia,
Não há galáxia sem matéria
Não há matéria sem substância
Ou há?

Há sociedade sem alma
Há almas sem lume próprio
Há pessoas sem voz
Há tudo sem nada

E nós?
Somos tudo com nada,
E nada com tudo!

Façamos lume,
Façamos luz,
Crie-se substância com a matéria
Razão com o pensamento,

Sentimento com algo.