sábado, 17 de maio de 2014

A segunda trinca de Adão

Esta manhã acordei a horas desapropriadas,
Rebolando na minha cama vazia!

O perfume era de alfazema,
As curvas confortáveis
Deslizavam sobre o colchão ortopédico!
Vida adormecida, sem lema,
Coração partido, amor periférico!
Nada é tão belo como o escuro,
As persianas semiabertas,
O amanhecer inseguro,
Visto por baixo das cobertas,
Que a mamã não esqueceu!
Não sou mulher de adormecer ao relento,
Mas jamais acordarei protegida,
Depois de ser levada pelo vento,
Que a madrugada alcoolizou!

Sou a deusa que o perigo nunca teve,
Ouso da minha inocência,
Fatalmente doce, natural
E tão consciente!

Não vais querer cair na minha indefinição,
Na minha mente espessa, no meu corpo são!

Sou a maça que Adão não trincou
E a Eva que o fará saborear o resto da maçã,
No dia em que o equilíbrio explodir
E a balança pesar o mesmo para os dois lados.

Não sei o que há-de vir!
As deusas nunca sabem o futuro,
Nada se fará realidade depois de pensado
E Adão e Eva nunca existiram.
Mas eu, perigo disfarçado,
Creio no que não vi,
Quando o sinto ao meu lado,
Nesta cama vazia,
Que será também de Adão,
Esse que não existiu,
Um dia!

3 comentários:

  1. Um excelente poema, Teresa. Gostei desse amanhecer inseguro, do cheiro a alfazema. "As deusas nunca sabem o futuro". Mas tu, "perigo disfarçado", hás-de saber que o futuro é cada instante que passa. E mesmo que te sintas ao teu lado, nunca estarás só, porque as palavras, estas, da poesia, serão o teu destino...
    Um beijo.

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  2. poesia sem rede, nem parra - exposta e bela

    sem sombra de pecado!

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