Eu não uso o papel e
a caneta para escrever o que sinto, mas sim para limpar as impurezas que se
instalam na língua e teimam em não sair. Sou uma pessoa expressionista. Sofro
de um terrível desespero por me expressar e uso e desuso as palavras sem nunca
as desvalorizar.
As minhas palavras
são lágrimas secas. E, jamais, deixarei de chorar.
Choro pela vida, pelo
amor, pela saudade, pela fome, pela vaidade,
pelas noites cheias
de luz, pelos dias em que anoitece, pela dor que provoco, pela dor que me
provocam, pelo vazio que tenho, pelo vazio que me oferecem.
Vivemos numa
sociedade vazia.
Não digo isto por
lamentar o presente e querer voltar aos supostos bons velhos tempos.
Digo-o porque ela é
vazia e não tem outra forma de ser.
Digo-o porque quanto mais
me integro nela mais vazia me sinto.
A sociedade é uma
autêntica coca-cola: corrói, aos poucos e levemente, mas corrói e nós,
indivíduos, não paramos de a beber.
Às vezes, surgem
pequenos buracos nas veias, algumas espinhas na cara, mas nada que não se
aguente.
O importante é haver
sol, juntar a malta toda, enfardar pacotes de batata frita e, claro, nunca
esquecer a coca-cola.
No entanto, há sempre
aquele indivíduo que leva sumo de laranja ou de maçã, bebidas que a malta só
bebe se estiver a morrer à sede e não houver coca-cola nem um supermercado à
beira.
E depois há sempre um
desgraçado que lá bebe sumo de maçã para não gastar coca-cola e diz que até
gosta, há sempre um chico esperto que prefere o sumo de maçã à coca-cola e nem
gosta de sumo de maçã ou então, neste caso nem sempre, há um inteligente que
gosta mesmo de sumo de maçã e dá-se ao luxo de ficar com a embalagem só para
ele.
Choro pela sociedade.
Choro e não paro de
chorar lágrimas secas que teimam em não sair.
É difícil descrever o
vazio. Diria, até, que se torna num caminho demasiado infinito para um ser com
tempo de vida limitado se atrever a completar.
Choro por tudo aquilo
que não é técnica:
Eis a minha definição
de arte!
Lindíssimo texto. Belíssima definição de arte. Tão lúcido esta tua forma de olhar a sociedade...
ResponderEliminarUm beijo.