O céu estava chateado com a vida. Mantinha-se escuro e
volumoso como se berrasse com as suas nuvens, dizendo que não queria trabalhar
mais. Parecia que o fim do mundo estava mais próximo do que nunca e por mais
lâmpadas, foguetes, holofotes, velas e candeeiros, o dia continuava negro,
triste, sem cor. As folhas das árvores, coitadas, sofriam com o mau humor do vento.
Chocavam com outras folhas que detestavam, com pessoas, com muros, com carros.
Ninguém tinha pena. Não passavam de folhas, simples folhas. A vida continuava.
O grande problema do momento era a tempestade que se
encaminhava para aquela terra. Todos usufruíam da tranquilidade e da monotonia
do céu nublado, quando mal sabiam que ele não se iria manter daquela forma para
sempre. Uns desejavam uma reviravolta. Queriam sentir o sol outra vez e
aceitavam qualquer sacrifício que os levasse a esse prazer. O impensável era
continuarem naquele tempo a viver em banho maria. A vida tinha de continuar.
Porém, tudo isto assustava a outra metade do mundo. Para quê sofrer se se
sentiam bem assim? Para quê ver todo o mundo revoltado se ele já não estava
mau? Admitiam que poderia estar melhor, mas insistiam na ideia de que o sol
quente os iria levar a outra tempestade até que ficassem perdidos num ciclo
imparável. Preferiam usufruir do equilíbrio. Preferiam ser uma metade, em vez
de tudo ou nada. E discutiam. Discutiam, discutiam, nunca chegando a uma
conclusão. Continuavam suspensos no tempo. Procurando argumentos para
acontecimentos que nunca iriam fazer acontecer. E assim, a vida continuava. Ia-se
andando. Até ao dia em que a vida venceu os viventes...
Teresa Poças
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